5 de agosto de 2007

Servico Biblico Latino Americano

Domingo, 5 de agosto de 2007
18º do Tempo Comum

Dedicação da Basílica de Santa Maria

Santos do Dia: Abel de Reims (monge, bispo), Addai e Mari (bispos), Afra de Ausburgo (virgem, mártir), Cantídio, Cantidiano e Sobel (mártires), Cassiano de Autun (bispo), Eusígnio de Antioquia (mártir), Mêmio de Châlons-sur-Marne (bispo), Nona de Nazianzo (mãe de família), Paris de Teano (bispo), Teodorico de Cambrai (bispo), Venâncio de Viviers (bispo), Xisto II (papa) e seis companheiros diáconos (mártires).

Primeira leitura: Eclesiastes 1,2; 2,21-23
Que resta ao homem de seus trabalhos e ansiedades?
Salmo responsorial: Sl 89 (90), 3-4. 5-6. 12-13. 14 e 17 (+ cf. 1)
Senhor foste nosso refúgio de geração em geração.
Segunda leitura: Colossenses 3, 1-5. 9-11
Busquem as coisas do alto, onde está Cristo.
Evangelho: Lucas 12,13-21
O que acumula riquezas não é rico diante de Deus.

A 1ª leitura se defronta diretamente com questionamentos que todos já nos fizemos alguma vez, ou melhor, com mais freqüência que o desejado.
O Eclesiastes pertence a um grupo de livros que chamamos de sapienciais.

A "sabedoria" é um amplo conceito que pode englobar desde a habilidade manual de um artesão até a arte para desenvolver, na sociedade, a maturidade intelectual... representa uma atitude de pessoas e povos cuja finalidade é encontrar respostas para os grandes questionamentos e mistérios da existência humana.

Para a sabedoria bíblica, a realidade e a experiência são lugar de revelação divina, quando o ser humano se entrega à reflexão e à tarefa de ler os acontecimentos à luz de Deus. Para isso, os sábios se apóiam na razão, muito poucas vezes recorrem à revelação ou à luz sobrenatural. E, junto à observação da experiência, a outra fonte da sabedoria é a tradição. Serão os últimos livros sapienciais (Eclesiástico e Sabedoria) que incorporam Deus como fonte suprema da sabedoria. No fundo, a vida é regida por uma série de leis, cuja causa última é Deus, por ser o criador do mundo. Esse sentido profundo das coisas, oculto para o homem, é o que se deve investigar e descobrir para adequar-se a ele e comportar-se "sabiamente".

Os sábios falam do problema da vida em sua acepção mais universal, não centrada no povo eleito. Esta sabedoria tem sua origem na vida do povo, que vai sendo recolhida em forma de ditos, refrãos, sentenças... Este patrimônio do saber popular vai-se enriquecendo por meio do tempo e da tradição oral, acolhendo influências dos povos limítrofes. Mais tarde, todo esse material básico será reelaborado pelos círculos sapienciais que lhe darão forma literária e uma certa estrutura. Com freqüência, estes livros apresentam formas dialogadas, incorporando diversos pontos de vista ao problema que se está estudando (Jó, por exemplo, Eclesiastes...).

Geralmente se pensa no Rei Salomão como quem mais impulsionou e cultivou esta arte de conduzir-se na vida. A sabedoria encontra seu meio ambiente mais propício na corte, na qual se formam os membros da família real, os futuros responsáveis da política, arquivos, administração... por isso a maior parte dos livros sapienciais são atribuídos a Salomão, como a Davi, os salmos ou a Moisés, o Pentateuco...

Podemos qualificar o autor do Eclesiastes de contestador. É uma voz cética e crítica, dissidente ante a tradição sapiencial que confia ilimitadamente nas possibilidades da razão e sabedoria humanas. O sábio Coélet é um autor, no mínimo, desconcertante. A pergunta que move toda a reflexão de seu livro é esta: Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol? (1,3) e sua resposta: vaidade das vaidades (pode-se traduzir também por vazio, sem sentido...) tudo é vaidade (1,2. 17; 2,1. 11. 17. 20. 23. 26; 12,8).

Este parece um livro muito pouco religioso. Como pode ser proposto a nós, cristãos, este livro, como palavra de Deus, com essa proposta tão materialista, tão pouco otimista...? ou esta outra conclusão: "a felicidade consiste em comer, beber e desfrutar de todo o trabalho que se faz debaixo do sol, durante os dias que Deus dá ao homem, pois essa é sua recompensa" (5,17) é como dizer vulgarmente "comamos e bebamos, porque amanhã morreremos..."

O autor percorre, ao longo de seu livro, todas as esferas do âmbito humano: trabalho, riqueza, dor, alegria, decepções, religião, justiça, sabedoria, ignorância, o tempo, a morte... buscando resposta para sua pergunta. Façamos o que for em nossa vida, no final o destino é o mesmo para todos os homens: a morte, o nada? É uma pergunta séria: O que fazemos aqui na terra? Para que viver, trabalhar, lutar, amar, pensar, esforçarmo-nos na ecologia, educação, política, direitos humanos...? Breve é nossa vida sobre a terra (Sb 2,1), a maior parte de nossa vida é fadiga inútil, que passa depressa e desaparecemos (Salmo 89,10). A experiência humana é como "caçar ventos", uma tarefa inútil e decepcionante. Vem à nossa mente aquela outra frase evangélica: De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro...?

Com o autor, o leitor prossegue com alegria o caminho percorrido pela existência humana, dia após dia, desejando que o autor tenha êxito em sua busca e que sua resposta tranqüilize um pouco nosso coração sedento de verdade, dê sentido a tudo o que somos e fazemos...Por mais que nos afadiguemos, nada levaremos conosco...

Na época do exílio, começou a surgir a teoria da retribuição pessoal e do destino individual: o povo eleito professava uma doutrina de retribuição coletiva: a bondade ou maldade de um indivíduo tinha repercussões no grupo e nos descendentes. No contexto do exílio, aquelas idéias foram mudando: cada pessoa recebia em vida a recompensa adequada à sua conduta (2Rs 14, 5-6; Jr 31,29-30; Ez 18,2-3. 26-27). Contudo, a experiência desmentia aquele princípio. Depois do exílio, este problema ocupou um posto primordial na reflexão sapiencial, e não se tornava fácil encontrar uma resposta adequada. O livro de Jó reflete vivamente este drama, apontando soluções diferentes, mas nenhuma definitiva nem convincente: Jó é convidado a entrar no mistério de Deus e, a partir daí, poder relativizar sua dor, seu desespero e pretensões. Coélet faz eco ao mesmo escândalo e o amplia: embora supondo que o justo sempre recebesse bens, tal recompensa não era proporcional ao esforço feito pelo homem para consegui-la, pois não dá plena satisfação aos anseios do ser humano. Tanto Jó quanto Coélet se movem no âmbito da retribuição intramundana, não vislumbram nada além da morte.

Este problema recebe nova luz com as idéias sobre a imortalidade e ressurreição que aparecem em Israel, durante as guerras dos Macabeus (2Mc 7,9; 12,38-46; Dn 12,2-4) e encontram sua formulação no livro da Sabedoria (Sb 1-5). A revelação do Novo Testamento dará respostas, três séculos mais tarde. A solução definitiva será dada pela vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, o Justo sofredor.

Por outro lado, é bom que o Eclesiastes nos lembre o sabor das coisas simples, o desfrute das coisas comuns, que também são de Deus. Tal pensamento estaria muito vinculado à mentalidade da pós-modernidade: de viver o presente, do "carpe diem" (viva o dia de hoje)... Não faz falta que façamos um esforço bem grande para sair desta realidade temporal para encontrar Deus. Ele é companheiro próximo de tudo que vivemos. Diz-nos a fé. A vida tem sentido porque somos pessoas humanas, não animais, e em nossos genes trazemos escrita essa busca de sentido, porque fomos feitos "à imagem e semelhança de Deus", um Deus criador, que se move, que sai de si, que inventa, que busca.

Evangelho: a vida não depende dos bens
Vai na mesma linha sapiencial que a 1ª leitura. O ser humano busca sem descanso a alegria e a felicidade, mas essa procura é cercada de muitos perigos. Um deles, apresentado pelo texto evangélico é o da cobiça.

Aproximam-se de Jesus dois irmãos em litígio e lhe suplicam que ponha ordem, que faça justiça. Jesus sabe pôr-se em seu lugar: ele que não veio ao mundo como juíz jurídico, legal, vai além do exterior: ! Ele revelará os pensamentos íntimos de muitos corações (Lc 2,35b), vai à raiz dos problemas, que está no coração do ser humano. Para ele, é mais importante desmascarar a cobiça que nos domina, do que fazer valer os direitos de cada um . Com o primeiro vem o segundo.

Suas palavras são magistrais: Guardai-vos escrupulosamente de toda a avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não depende de suas riquezas. Jesus não convida ao conformismo. A primeira coisa é a justiça, querida por Deus, anunciada por Jesus: que todos tenham pão, educação, teto... fruto da comunhão, da solidariedade, novo nome da justiça, esse é o Reino, a Nova Humanidade. Mas pode ocorrer que quando tivermos o que nos é justo, o que nos corresponde como filhos e irmãos, ambicionemos mais. Esta cobiça nunca nos permitirá descansar. É muito difícil dizer para si mesmo: "tens muitas coisas guardadas para muitos anos, descansa, come, bebe, regala-te..." normalmente, não há quem consiga dizer um basta à cobiça. É preciso estar alerta. Até onde chegar no acúmulo de bens?

A cobiça de uns poucos ou de muitos impede o desenvolvimento dos povos, e, além disso, é contagiosa: por que me acontece olhar para os outros e comparar-me com eles para ambicionar mais, cada dia? Por que não me ocorre olhar para os que têm menos e que vivem pior, para mover-me a compartilhar com eles? Felizes os que têm o espírito de pobre, porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5,3). Não ambicionar nada mais do que o necessário, agradecer o que já temos, o que hoje nos é dado, esse é o espírito do pobre. Não são as posses que nos dão a vida. Acreditemos nisso.Vim para que tenham vida, e a tenham em abundância (João 10,10). "Cristo é nossa riqueza".

O que se foi acumulando ao longo da vida, sem desfrutá-lo, sem compartilhá-lo, de quem será? Para quem será? Todos conhecemos pessoas avaras, com muitas riquezas materiais que vivem andrajosamente, sem capacidade de desfrutar o que têm. Serão felizes essas pessoas? NÃO. Para que viver pendentes do ter, e não ser capazes de ser? Pensando sabiamente: que benefícios essa atitude e essa ambição nos trazem? Isso é dispor das riquezas para si e não ser ricos diante de Deus. Enriquecer-se em Deus, é viver como Jesus: confiantes, nas mãos de Deus Pai/Mãe, buscar o Reino como o mais importante, o demais virá por acréscimo... enriquecer-se em Deus é dispor de uma única fortuna: a do amor, a das boas obras com os mais pobres e desfavorecidos (Mt 6,19).

2ª Leitura:
A intenção da Carta aos cristãos de Colossos é afirmar a supremacia de Jesus Cristo acima de toda a realidade cósmica, terrena ou supraterrena. Alguns pretendiam introduzir na comunidade idéias filosóficas sobre o mundo dos poderes angélicos, e algumas práticas ascéticas, inspiradas em ritos mágicos e misteriosos que confundiam e ameaçavam destruir o mistério de Cristo entre os fiéis. Por isso, no hino cristológico de 1,15-20, Jesus é apresentado como o Senhor de toda a criação e único salvador do mundo, revelação perfeita da sabedoria divina, escondida durante séculos, mas revelada agora no Filho, fonte de vida espiritual para o ser humano, de quem recebemos a plenitude. Somente aceitando esta primazia absoluta de Jesus Cristo alcançamos a autêntica condição de novas criaturas. Somos nele, tudo se mantém nele.

O batismo introduz o cristão na posse já presente da salvação, não como alguma coisa conseguida de maneira estática, mas em movimento, em progresso, dinâmico, em combate. O batismo nos une a Cristo e nos faz participar de suas riquezas: Fomos sepultados com Cristo no batismo, e com ele também ressuscitados por ter acreditado no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (2,12).

Mortos e ressuscitados com Cristo devemos buscar o que ele buscou, as coisas de cima, as coisas de dentro onde está nossa verdadeira riqueza, a do coração, mas também as más intenções (Mt 15,19). Deve-se fazer morrer o que é desamor, despojar-se do "homem velho". Esta renovação é espiritual (Ef 4,23), ou seja, sob a ação do Espírito, o mesmo que animou Jesus em sua existência terrena. O "homem velho" é egoísta, mentiroso, escravo de seus apetites... o "homem novo" é bondoso e compassivo, inclinado e preocupado com os outros, comunitário, misericordioso, compreensivo, faz do amor a norma de sua vida... para com os demais age da mesma maneira com que Cristo agiu com ele. Esse é o ser humano novo (Ef 5,1-2). A fonte de toda moral humana é a união com Cristo, à qual se chega pelo batismo. Sem este fundamento, a vida será um conjunto de receitas e normas que se devem cumprir. A nova condição das pessoas novas vai-se renovando cada dia, segundo a imagem do Criador. Há uma frase do padre Arrupe que diz isto muito bem: "Senhor, quero conhecer-te. Tua imagem sobre mim, bastará para conhecer-me".

Na comunidade de homens e mulheres novos, recriados pelo Espírito à imagem de Cristo, todos somos iguais, não há categorias nem classes sociais. Cristo é tudo em todos. Preenche-o todo, não há lugar para outras aspirações, intenções... é a grande verdade dessa comunidade, de cada irmão, por isso não há lugar para a mentira e a falsidade.

Para a reflexão pessoal:
1- Teu trabalho te dá satisfação? Encontras sentido no que fazes e vives? Como vivencias tuas ocupações no trabalho, em tudo o que realizas ao longo do dia?
2- Que fazes para despojar-te do homem velho: o egoísmo, a inveja, a mentira..., e revestir-te das atitudes de Jesus: bondade, amor, misericórdia, compreensão...? Como vais renovando em ti a imagem de teu criador, dia após dia?
3- Sentes que és apegado a teus bens, poucos ou muitos, que tenhas? Que queres fazer com eles? Como podes tornar-te rico em Deus?

Reflexão em grupo:
- Não ficar só no texto proposto pela Liturgia para este domingo, mas procurar ler algo mais do livro do Eclesiastes e compartilhar as respostas pessoais ao problema apresentado pelo autor: Que proveito tira o homem de todo o seu trabalho, de sua ocupação debaixo do sol? Pensamos que a vida é vazia e sem sentido? Que sentido damos à nossa vida?
- Nosso grupo, nossa comunidade é formada por mulheres e homens novos? Em que se nota isto?
- Que pensamos acerca da cobiça? Que podemos fazer como alternativa?

Oração dos Fiéis
- Por que todos nós que formamos a Igreja, para que vivamos com força nosso batismo, e os renovemos cada dia e nos vamos despojando da velha condição humana e suas atitudes, rezemos...
- Movidos pelo Espírito de Jesus, peçamos força para não nos deixarmos levar pela cobiça, mas, pelo contrário, promovamos a justiça, a partilha. Que saibamos ocupar0nos em acumular os bens que valem a pena e que nos façam mais felizes e ao que nos rodeiam, rezemos...
- Para que o Senhor nos conceda um coração dócil à sua Palavra, como o de Maria, nossa mãe, que põe em prática o que escuta, rezemos...
- Pelos que mais sofrem entre nós, por qualquer motivo: fome, perseguição, enfermidade, mentira... para que possam contar com nosso apoio e ajuda desinteressada, rezemos...
- Sempre é necessário pedir ao nosso Deus que conceda o dom da paz: a cada pessoa, a cada grupo, família, às nações. Para que seja possível a superação das guerras, os ódios, as divisões entre as pessoas, por meio do diálogo, o entendimento, a mansidão e a prática da justiça, rezemos...

Oração coleta
Livra-nos, Senhor, de toda cobiça.
Concede-nos, Senhor, um coração simples,
Que não ambicione mais do que o necessário
Que saiba agradecer o que temos,
o que cada dia nos dás tu e nossos irmãos.
Que confessemos que só tu és nosso verdadeiro tesouro,
E em tuas mãos amorosas queremos viver confiantes
Que não nos cansemos de viver assim, buscando primeiro e antes de tudo o Reino.
Pai, que teu Espírito nos faça cada vez mais parecidos
A teu Filho Jesus, que contigo vive e reina...

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