15 de julho de 2007

Servico Biblico Latino Americano

Domingo, 15 de julho de 2007
15º domingo do Tempo Comum
São Boaventura, Bispo e Doutor da Igreja (Memória ).

Outros Santos do Dia: Abudêmio de Tenedos (mártir) , Adalardo, o Grande (monge) , Aprônia de Troyes (virgem) , Atanásio de Nápoles (bispo) , Balduíno de Rieti (abade) , Bento de Angers (bispo) , Davi de Munkentorp (monge, bispo) , Edith de Polesworth (viúva) , Egino de Ausburgo (abade) , Eterno de Évreux (bispo) , Félix de Pavia (bispo, mártir) , Pompílio Maria Pirotti (presbítero) , Tiago de Nisibis (bispo) , Vladimir de Kiev (rei) .

Primeira leitura: Deuteronômio 30, 10-14
O mandamento do Senhor está perto de ti: e tu o podes cumprir.
Salmo responsorial: Sl 68 (69), 14 e 17. 30-31. 33-34.36ab e 37 (+ cf. 33)
Humildes, buscai a Deus: o vosso coração reviverá!
Segunda leitura: Colossenses 1, 15-20
Tudo foi criado por ele e para ele.
Evangelho: Lucas 10, 25-37
Quem se portou como próximo do assaltado.

Deuteronômio 30, 10-14: O mandamento do Senhor está muito perto de ti, e tu podes cumpri-lo.
A época do desterro foi para Israel uma situação que confrontou o modelo de Aliança entre Deus e seu povo, como princípio de mudança e conversão. Esta inclui a volta pessoal para Deus e o cumprimento de todos os seus mandamentos, "com todo o coração" como pede Deuteronômio 6, 4.

Embora o capítulo 30 esteja redigido em segunda pessoa do singular, é de sentido plural na época do exílio: "quando te sucederem estas coisas" (v. 1) mas já lhes tinha acontecido. Todo o capítulo pressupõe a destruição de Judá e Jerusalém em 587 a.C.

A boa nova para o povo se centra no capítulo 30. Apresenta-se mostrando que o preceito não está acima de suas forças, nem fora do alcance (v. 11) embora o povo esteja no exílio. Não está no céu, nem além dos mares (vv. 12-13). A palavra de Deus já foi pronunciada e se encontra em nossa boca e em nosso coração. Se ficarmos repletos de sua palavra, realizar-se-á sua vontade em nós (v. 14). Ter próximo a Palavra é amar a nosso próximo.

Hoje, necessitamos também de estar abertos à palavra que nos é dirigida nos sinais do tempo e nos lugares, como palavra reveladora da ação de Deus em nossa história, com o propósito de escutá-la e vivenciá-la na radicalidade e compromisso.

Salmo 68: Humildes, buscai o Senhor, e vosso coração há de reviver.
O tempo de composição do salmo 68 é indicado na última estrofe: "o Senhor salvará Sião, reconstruirá as cidades de Judá" (v. 36), época imediatamente posterior ao desterro, pensando possivelmente no grupo de exilados que ansiavam pela reconstrução do templo.

O salmo é um canto de um "servo de Javé" (v. 18), que sofre a discriminação. Rechaçado e ignorado pelas estruturas de poder, é visto com o carinho de Deus que vê neste servo um exemplo e testemunho para os que, como pobres, buscam e aguardam a ajuda de Deus. Com este servo, estão em jogo a confiança e a esperança de outras pessoas. O salmo é um convite para sair do egoísmo, e pôr-se em função do serviço para com os outros, com a marca inconfundível do amor.

Colossenses 1, 15-20: Tudo foi criado por ele e para ele.
Este hino da Carta aos Colossenses apresenta em toda a sua profundidade a primazia de Cristo, como Filho de Deus e como princípio de toda a nova humanidade que renasce com ele. Liga a ação salvadora de Cristo com a obra da criação, unidas a um mesmo tronco, com as raízes profundas da fé.

A nova criação que surge com Cristo, apresenta-se no modelo de nova humanidade, pelo mundo e pela história, onde se deve trabalhar por elas para cumprir o plano salvador de Deus em seu Filho. Faltou ao seres humanos viverem a reconciliação com a obra de Deus e continuam se distanciando enormemente entre si e na causa de sua justiça.

Lucas 10, 25-37: Quem é o meu próximo?
Jesus queria que a lei do amor prevalecesse sobre a lei do culto e sobre os próprios interesses. Devemos considerar que a mentalidade judaica do tempo de Jesus, absorvida pelo legalismo, havia-se transformado numa consciência fria, sem calor humano, à qual não importavam as necessidades nem os direitos do ser humano.

Somente se fazia o que permitia a estrutura legal e se rechaçava o que ela proibia. O legalismo imposto pela estrutura religiosa era a norma oficial da moral do povo. Havia-se chegado, por exemplo, a estabelecer, na ótica da legalidade religiosa, que a lei do culto prevalecia sobre qualquer lei, inclusive sobre a do amor ao próximo. Tal situação assombrava e preocupava Jesus pois não era possível que, em nome de Deus, fossem estabelecidas normas que acabavam desumanizando o povo.

Este era o contexto em que nasceu a parábola do bom samaritano: um homem necessitado de ajuda, caído no caminho, mais morto que vivo, sem direitos, violentado em sua dignidade de pessoa. É abandonado pelos cumpridores da lei (sacerdotes e levitas) e em troca é socorrido por um "ilegal" samaritano (cujo povo não tinha boas relações com os judeus). Jesus fez uma proposta de verdadeira opção pelos direitos desse ser humano caído, condenado pelas estruturas sociais, políticas, econômicas e religiosas excludentes (que se encarregam de não respeitar os direitos das pessoas e não lhes permitem viver em liberdade e em autonomia).

Jesus quer demonstrar-nos como a solidariedade é um valor que deve se antepor não somente à lei do culto, mas também à própria necessidade pessoal, buscando o bem-estar social e comunitário, a defesa dos direitos de tantas pessoas que vivem em situações de falta de solidariedade e de reconhecimento de seus direitos. Isto nos faz pensar na opção por continuar o caminho de compromisso e de trabalho em nossas comunidades e organizações, a partir do compromisso solidário com os irmãos e irmãs que estão caídos no caminho, pelo não-reconhecimento de seus direitos.

A parábola é tudo, menos um jogo de palavras bonitas. É algo mais que uma peça literária da antigüidade. É uma constante interpelação para o nosso hoje.

Somente Lucas nos conserva em seu evangelho esta parábola. Este texto, tão amplamente conhecido na liturgia, começa com uma pergunta de um mestre da lei, um letrado, sobre o que se deveria fazer para se ganhar a vida eterna.

Jesus, por sua vez, devolve-lhe a pergunta para que o letrado a busque em sua especialidade, ele tem a resposta na lei... O mestre da lei, citando de memória o Deuteronômio 6, 5 e o Levítico 19, 18, faz uma rápida síntese do sentido dos 613 preceitos e obrigações que se conseguiam contar, conforme os rabinos, para responder em dois que são fundamentais: Amar a Deus e ao próximo... Jesus aprova a resposta...

Seu interlocutor faz nova pergunta, pois no Levítico o próximo é o israelita e no Deuteronômio se reserva o título de irmãos unicamente para os israelitas... Jesus, em lugar de discutir e entrar em becos sem saída, em vez de apresentar novas teorias e interpretações diante da lei antiga e de sua prática, propõe-lhe uma parábola como exemplo vivo sobre quem é o próximo.

Podemos contemplar na parábola os personagens e tirar dali as conseqüências de ensino para o dia de hoje: um anônimo (v. 30), vítima dos ladrões e que cai meio morto no caminho; um samaritano (v. 33) meio pagão – ou talvez completamente pagão – cujo tratamento e relação com os judeus era quase um insulto a suas tradições; um sacerdote (v. 31) e um levita (v.32), a contraposição e a diferença entre dois graus do poder religioso, pois o levita era um clérigo de grau inferior que se ocupava principalmente dos sacrifícios, mas eram guardiões, enfim, do culto oficial e dos ritos a serem seguidos na religião estabelecida.

A relação entre cada um dos personagens da parábola é diferente: o sacerdote e o levita diante do homem caído no caminho não se baseiam no nível da necessidade que este último tem, mas no da inutilidade que apresentaria diante da lei e do desempenho do ofício, o prestar qualquer atenção ao homem caído, impediria a estes representantes do culto oficial poder oferecer os sacrifícios agradáveis a Deus. O samaritano, pelo contrário, não encontra nenhuma barreira para dar ajuda desinteressada ao desconhecido, ali estendido e ferido, necessitado da ajuda de alguém que passasse por aquele caminho. Somente o samaritano se compadece daquele homem anônimo e se entrega com infinito amor a defender a vida que está ameaçada e enfraquecida.
Jesus diz, nesta parábola, que nosso próximo, companheiro deve ser para nós, em primeiro lugar, o compatriota, porém não somente ele, mas todo ser humano que necessita de nossa ajuda. O exemplo do samaritano desprezado nos mostra que nenhum ser humano está tão distante de nós, em qualquer tempo e lugar, que deixemos de até arriscar a vida por ele ou ela, porque é nosso próximo.

Para a conversão pessoal
- Portamo-nos como próximo diante do ser humano despojado e abandonado?
- Há espaço em nossas preocupações religiosas para aprender com o que Deus nos manifesta na vida cotidiana?
- Somos, por acaso, daqueles que vamos ao culto do templo ou ao cumprimento legalista, mas não atendemos na vida real aos que de nós necessitam?
- Fazemo-nos próximos dos necessitados que encontramos em nosso caminho? Somos capazes de palmilhar por caminhos distantes, a fim de nos aproximar dos que precisam de nós embora não estejam em nosso caminho?

Para a reunião da comunidade ou do círculo bíblico
- Diz-se que nesta parábola de Jesus há algo de "anticlerical"; em que sentido poderia ser isto verdade?
- As três atitudes que Jesus compara são a do sacerdote, a do levita e a do samaritano. Mas este "terceiro termo da comparação" não era o que logicamente o auditório esperava. A expectativa era que Jesus contrapusesse o comportamento do sacerdote e do levita ao de "um bom judeu misericordioso". Que lição acrescenta o fato de Jesus saltar esse fim, logicamente esperado, e o substituir nada menos que por um "samaritano"? O que então estes significavam?

Para a oração dos fiéis
- Para que compreendamos que a lei de Deus não é um capricho de sua vontade, mas que obedece à própria dinâmica de nosso ser, à lógica do amor que Deus mesmo é, inclusive, obedece também a nosso interesse mais profundo, rezemos ao Senhor...
- Para que homens e mulheres de nosso mundo, especialmente aqueles que não praticam religião alguma, deixem-se levar pelas inspirações do melhor de seu coração, em que Deus age e inspira...
- Para que sejamos capazes de nos tornar próximos dos muitos homens e mulheres que hoje jazem despojados e meio mortos à margem do caminho...
- Para que nosso culto no tempo sempre esteja precedido e continuado pelo culto do amor e da solidariedade na rua...
- Pelos "samaritanos" de hoje, aqueles dos quais ninguém espera nada de bom mas que na realidade aos olhos de Deus praticam o amor solidário...
- Para que nossa Igreja, e nossa comunidade cristã, sejam uma Igreja "samaritana", à qual não importe "dividir sua sorte com os pobres da terra"...

Oração:
Graças, ó Pai, porque não andamos sozinhos na vida, nem caminhamos sem rumo, perdidos na névoa do isolamento ou na solidão que nos empobrece. Tua presença é contínua ao nosso lado, palpável e sensível em teu Filho feito carne; presença hoje atual mediante tantos samaritanos e samaritanas de amor comprometido que, seguindo as pegadas de Cristo sabem mudar desinteressadamente o caminho de suas vidas para oferecer seus serviços aos necessitados. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Deus, Pai nosso, que em Jesus nos ensinaste que o amor e a solidariedade são o culto principal e primeiro com que queres ser adorado; ilumina nosso olhar para descobrirmos tantos homens e mulheres que foram postos à margem do caminho, onde apenas sobrevivem, e abre nossos corações para nos tornarmos solidários com eles. Tu que vives e reinas pelos séculos dos séculos. Amém.

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